' Falta tanta coisa na minha janela como uma praia, falta tanta coisa na memória como o rosto dele*, falta tanto tempo no relógio quanto uma semana, sobra tanta falta de paciência que me desespero. Sobram tantas meias-verdades que guardo pra mim mesma*, sobram tantos medos que nem me protejo mais, sobra tanto espaço dentro do abraço, falta tanta coisa pra dizer que nunca consigo..

quinta-feira, 12 de março de 2015

E então eu a perdi.

Como quem perde o horário em uma estação de trem. Não sei quando isso aconteceu – ou como isso aconteceu. Foi de repente, sabe? Ela disse que estava cansada. Mas cansada de quê? Eu estava sempre ali, vendo televisão, lendo meus livros, trabalhando… É, talvez eu não tenha dado a devida atenção que a minha garota merecia. 

Ah, minha garota… Onde você está no momento em que escrevo esse texto? 

Me lembro até hoje da primeira vez que a vi. Ela estava linda. Vestido preto, casaco de couro e aquelas botas que nunca tira. Escutando uma música qualquer com seus fones de ouvido coloridos – música, que em minha imaginação fértil, desejei que fosse alguma do Jimmy Hendrix. Os cabelos um pouco bagunçados demais, como se quisesse passar a ideia de uma criatura indomável. Gostei de cara. Ela? Nem tanto. Foi preciso mais do que cantadas prontas e meus olhos azuis para conquistá-la. Valeu a pena. Ela era com certeza a mulher da minha vida. Como era bom o nosso amor. Era puro. 


Não sei em que momento a perdi; só sei que a perdi. A rotina não nos deixa valorizar os pequenos momentos – pelo contrário, ela dificulta. Nossas refeições já não eram mais divertidas e cheias de gargalhadas. Agora que me recordo delas, tenho a sensação que parecíamos dois advogados em uma reunião importante. Quietos. Com medo de falar muito. Nossa casa era fria, branca e silenciosa. Pensávamos até em adotar um cãozinho, quem sabe ele não traria um pouco de alegria? Mas estávamos apenas nos iludindo. Nós não precisávamos de um cãozinho. Nós precisávamos voltar a ser quem éramos. Precisávamos de mais bilhetinhos de “bom dia” em vez de eu te amo’s automático. Eu deveria ter perguntando mais vezes se estava tudo bem, mas com a intenção de realmente saber o que se passava com ela. Eu deveria ter dado um abraço apertado para cada hora do dia em que pensava nela. Eu devia ter me lembrado dos detalhes antes que fosse tarde… Bem, agora já é tarde. 


São poucos os que conseguem manter a chama de um grande amor acesa. O amor de nada vale sem as faíscas. Queimando. Ardendo. E eu? Bem, eu deixei que o nosso pequeno incêndio se apagasse. Os bombeiros chegaram rápido demais. Não tive tempo para despedidas, lágrimas e nem para sentir o cheiro dela uma última vez. Então aqui estou – sentado em um sofá grande demais, em uma casa cheia de espaços vazios e silenciosos. Estou escrevendo esse texto. Escrevo porque quero que você, que está lendo do outro lado do papel, não deixe que ela se vá. 

Não perca a sua garota.

- Isabela Freitas.


Um comentário:

  1. Pqp!!!
    Não sou de me abalar, mas esse texto acabou cmg!!!
    Da pra sentir a emoção pulsando em cada palavra!!!!

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